O Amor


Quando se ama com verdadeiro amor, a presença do ser amado é ressentida ao mesmo tempo como um sofrimento e como um prazer. É o duplo combate da sombra e da luz. Uma ameaça acrescenta-se à tua alegria, um sombrio pressentimento de fracasso que te torna infeliz. Considera a alegria e a tristeza como as duas cores de um mesmo ramo. Que uma não se erga contra a outra, e o teu amor será salvo.

A experiência amorosa recomeça o mundo, em cada instante.

O amor é antes de mais nada um dom de Deus, antes de ser centelha e desejo no coração do homem. Ele junta o que foi separado: a alegria e a dor, a recordação e o esquecimento, o nascimento e a morte. Ele é o grande libertador.

O amor não tira nada. Dá.

A posse impede a paz da alma. É o reflexo destruidor que gera o sofrimento.

O amor que tu não podes atingir, brilha fora de ti, e a sua luz parece-te inacessível. Considera-o como uma estrela longínqua, que não brilha senão para ti. É assim que ele se há-de aproximar.

Julgamo-nos indignos do amor, e esse sentimento negativo impede-nos de viver. Considera que no amor não há nem vencedor nem vencido. Somente a vida triunfa.

O amor é uma fusão das almas para além do corpo, mesmo se o corpo participa nela ardentemente, apaixonadamente. Ele compromete para além de si próprio, arranca-nos das nossas certezas, das nossas crenças, e coloca-nos numa clareira pacífica que se parece com a eternidade.

Sentes amor por alguém? Esse amor não é correspondido? Não abandones, não te desvies. Se os teus pensamentos vêm do coração, sem animosidade, sem violência, novos e belos apesar do teu despeito, do teu desânimo, então o coração do outro será atingido.

O amor torna-nos eternamente ricos.

Não há amor sem renúncia, sem abertura do coração. Não esperes pelo amor. Vai ao seu encontro. Interroga-te acerca das tuas verdadeiras razões de amar, antes de acusar os outros. Somos muitas vezes, infelizmente, a causa das nossas próprias desgraças. Ilumina as tuas motivações profundas e regressarás trazendo uma nova riqueza. Todo o ser humano é digno do amor. Acolhe-o com simplicidade, como acolherias o céu, o sol, ou o movimento das nuvens. Aprende a leveza no amor, sem ficar assustado com a sua profundidade.

A confiança e o respeito mútuos são os pilares do amor. Transcendem as rivalidades e os egoísmos. Para amar, renuncia às tuas protecções, abandona as tuas trincheiras, e entrega-te na nudez do coração.

Não podes amar o outro senão amando-te a ti próprio.

A partir de hoje decide-te por um género de vida diferente. Não deixes instalar-se o imobilismo e o envelhecimento na tua relação amorosa. Opõe-lhes a espontaneidade, a energia juvenil, emoções novas e sonhos novos. A dúvida e o tédio envenenam muitas vezes o amor. Redobra a tua vigilância.

Mantém aceso o amor em permanência como um fogo, com perfumes, cores, música. Cultiva a sedução. Aprende a fazer brilhar os teus actos, os teus pensamentos, os teus desejos. O amor precisa de luz para viver.

O amor não é exterior a ti, mesmo se o procuras para além de ti próprio. Ele habita nos mistérios do teu coração. Perdeste simplesmente a chave.

O universo fica equilibrado quando as duas mãos se juntam.

Olha para cada pessoa que encontras como se ela te devesse trazer um grande segredo.

O amor é uma grande força curativa.

No amor físico, cada um procura desesperadamente o outro. Não te contentes com uma posse efémera do corpo, mas procura também a fusão do corpo e do espírito, tomando consciência das tuas emoções, das tuas sensações. É assim que os adeptos do tantrismo se unem à Grande Deusa. É assim que o amor é libertador.

Se queres amar e ser amado, considera cada dia como excepcional.

Há um mistério do amor. Aqueles que se amam experimentam no seu coração a força de atracção dos astros, a queimadura dos sóis, o começo e o fim dos mundos. Eles morrem e renascem num mesmo corpo. O amor é a outra vertente da solidão, o seu lado iluminado.

No amor físico, o céu voa espalhando o seu brilho, e tu participas no enlaçamento dos mundos, na sua criação. A união do corpo e do coração abre uma porta para a imensidão.

Alguns julgam que o desejo cai depois do acto amoroso, que ele comunica um sentimento de tristeza, e nos afasta do outro. É um erro de visão. Aproveita esse momento incomparável para meditar sobre as tuas sensações, e toma consciência do que é realmente o repouso do corpo.

Por trás do acto amoroso, há as mãos calmas e transparentes do mundo.

Por: Dugpa Rinpochê
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