A Alegria


A partilha não divide. Pelo contrário, reúne o que foi separado, dividido. Sai-se de si próprio para ir ao encontro de outros, com benevolência, contentamento e modéstia. Reencontra essa humildade alegre, animada pelo desejo de servir o mundo. É a ti próprio que receberás em partilha, a tua realidade profunda, em acordo com a realidade harmoniosa do universo.

O sol do meio-dia, na sua alegria, a sua apoteose, brilha para toda a gente. Distribui prodigamente as suas riquezas. Mantém-te no zénite da tua vida, e serás inesgotável, para ti e para os outros.

Não é necessário ter um domínio total de si, um conhecimento profundo do coração, para dar aos outros. O dom mantém-se na superfície dos lábios, ao virar de um gesto. É fácil de levar. Cresce na inocência e na luz. Partilhar, é multiplicar as ocasiões de felicidade.

A alegria não é uma paixão humana, violenta, que se instala por um breve instante e desaparece imediatamente. Ela é a sabedoria inerente ao ser humano, a luz do coração, o seu cintilar na vida de todos os dias.

A vida afirma-se numa alegria constante que reconcilia os adversários, aproxima os amantes, os amigos, numa mesma liberdade. A alegria é um estado de perfeita aceitação, de renúncia a si próprio e de abandono aos outros. Encontramo-nos de repente cheios, para além dos nossos próprios limites humanos.

Não rejeites o humor. Ele impede o envelhecimento do corpo e do coração. Sem humor, a felicidade não dá frutos. É como uma árvore sem pássaros que está virada para o inverno.

Quando é partilhada, a alegria nunca fica diminuída. Renova-se constantemente no outro.

Deves libertar-te da arrogância e da falta de amor, se quiseres ser feliz. Não te isoles, não reforces o teu egoísmo, mas caminha ao encontro dos outros, de mãos abertas.

A alegria é uma fonte de juventude eterna.

Se guardares a tua felicidade só para ti, acabará por te abafar. Comunica-a aos outros, àqueles que amas, aos teus próximos, e vê-la-ás florir.

Vira os teus olhos para a simplicidade natural do mundo: o céu, a luz do sol, as árvores, as flores e os risos das crianças. Liberta-te dos fardos pesados. Torna-te de novo leve e puro como um céu de montanha.

O amor que pára na superfície das coisas está condenado a debilitar-se, a morrer. É como a árvore sem raiz, prometida ao machado do lenhador.

Toma prazer em viver, e a vida tomar-te-á a seu cargo.

Como dar o que não se possui? Aprende a amar-te a ti mesmo, se quiseres ver brilhar o universo nos olhos dos outros.

Deves evitar as disputas e os conflitos que obscurecem o coração. Eles preparam o terreno ao sofrimento e à solidão.

O facto de dar e de receber vem do coração e volta para lá livremente. A alegria está aí onde estás. Ela nunca é exterior a ti. Só há um lugar, ao mesmo tempo fonte de saúde, de abundância, de encantamento, e esse lugar está em ti.

Aprende a amar aqueles que não são parecidos contigo, que parecem diferentes, afastados da tua cultura, da tua história. Eles são os outros espelhos de ti próprio. Sem eles, não tens senão uma imagem incompleta da felicidade. Não estás realmente reconciliado contigo próprio.

Não te apegues aos resultados, nem nunca limites os teus desejos, se quiseres conhecer a alegria.

Cultiva em ti o desejo de ser feliz, apesar das hesitações e dos obstáculos. Não recuses o combate contra ti próprio. Deves aprender a pacificar os teus humores e as tuas paixões, se quiseres ser feliz.

No instante presente em que o sol se esconde, a vida acende-se no interior.

Não julgues o que é feliz ou infeliz, luminoso ou obscuro. Deves fazer calar essas divisões absurdas e reencontrar a unidade do coração, a plenitude alegre. Acende em ti um sol que não se apaga.

Por: Dugpa Rinpochê
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